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Professor: Prof.Dr. Clemente Maia Fernandes e Profa. Dra. Mônica da Costa Serra

Pesquisadores fazem reconstrução facial digital a partir de crânio Por Mariana Pantano.

Já há algum tempo, peritos dos Estados Unidos e da Europa conseguem reproduzir imagens da aparência de um rosto a partir de um crânio encontrado e não identificado.

No Brasil, essa técnica ainda não havia sido aplicada até que dois pesquisadores brasileiros elaboraram a primeira reconstrução facial digital do país.

O estudo, publicado na Revista da Unesp Ciência, de dezembro de 2011, foi feito pelo Cirurgião-Dentista, Clemente Maia da Silva Fernandes, que realizou parte do projeto como sua tese de doutorado em Ciências Odontológicas, na Fousp, e pela Cirurgiã-Dentista, Mônica da Costa Serra, da Faculdade de Odontologia de Araraquara – Unesp (Universidade Estadual Paulista), em parceria com o Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI), em Campinas. As primeiras reconstruções faciais foram realizadas no século XIX e seus objetivos eram arqueológicos e históricos. Mas os esforços pioneiros precisavam de maior fundamentação técnica para obter precisão. Isso só ocorreu em meados do século XX, com a consolidação de três diferentes escolas de reconstrução facial: a russa, a americana e a inglesa. A escola russa procura reproduzir os músculos da face ligados à mastigação e à mímica (capacidade dos músculos de elaborarem expressões com conteúdo emocional como tristeza, raiva, medo etc.). Já Estudo tem cunho social e forense, pois além de possibilitar a identificação de corpos e ossadas, pode auxiliar na busca de pessoas desaparecidas a americana procura reconstituir a espessura cutânea de determinados pontos da face, denominados de pontos craniométricos.

A técnica localiza 21 pontos específicos no crânio e atribui a eles uma determinada espessura cutânea. A inglesa é uma mistura das duas. Os pesquisadores escolheram trabalhar com a técnica americana por acreditarem ser “simples, rápida e bastante eficiente”.

O objetivo da tese do pesquisador Clemente Fernandes foi produzir uma reconstrução digital do rosto de Mônica Serra, a partir de arquivos de um exame de tomografia computadorizada que tiveram removidos os tecidos moles.

A linha de pesquisa desenvolvida pela dupla, na seara da Reconstrução Facial Forense, está em uma terceira etapa, em que os cientistas produziram protótipos – modelos físicos tridimensionais – das reconstruções digitais.

A reconstrução A primeira parte do trabalho consistiu no tratamento das imagens feito no software desenvolvido pelo próprio Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI), capaz de reagrupar as diversas “fatias” geradas pela tomografia, reconstituindo, assim, o formato original da parte do corpo gerada pelo exame de tomografia computadorizada que Mônica realizou. No caso de uma ossada não identificada, o procedimento inicial consiste na elaboração de uma tomografia do crânio, portanto, para se aproximar mais dessa situação real, durante o tratamento das imagens do exame da Cirurgiã- -Dentista Mônica Serra, todos os tecidos moles (como pele, músculo e gordura) foram removidos das imagens para simular ao máximo um acontecimento verdadeiro.

Depois, a imagem foi enviada a um programa que faz a modelagem 3D do crânio. Sobre esse crânio são aplicadas informações de uma tabela que contém espessuras médias dos tecidos moles faciais, e o rosto é reconstruído digitalmente.

Em seguida, os cientistas podem imprimir o resultado em gesso ou outro material em uma impressora 3D. Durante o estudo, os pesquisadores trabalharam com três tabelas de espessura diferentes, por isso, ao final do trabalho, obtiveram três possíveis reconstruções da face de Mônica Serra.

“Queríamos validar qual era a melhor tabela para fazer a reconstrução digital no Brasil”, explica Clemente.

Na etapa final, foi feita a colocação de pele e cabelos no crânio. Porém, a ossada não fornece informações sobre estas características, por isso, a estratégia adotada é buscar características encontradas na maioria da população.

A face tem um tom moreno claro e os cabelos cacheados. Mas os pesquisadores verificaram, em uma fase posterior nesta linha de pesquisa, que a não colocação de cabelos pode proporcionar melhores resultados de reconhecimento. O formato do crânio, entre outros dados, ajuda a identificar o sexo da pessoa.

Os ossos não mostra se a pessoa era gorda ou magra. Por isso, o ideal é que se façam três reconstruções (magro, normal e obeso) para aumentar as chances de reconhecimento.

Algumas informações ósseas e dentárias levam à estimativa da ancestralidade e da idade do falecido. “Pelo índice nasal, em que a altura do nariz é maior que a abertura, subentende-se que o indivíduo era de origem caucasiana.

O negro tem uma mandíbula mais projetada e maior. É importante ressaltar, também, que existem muitos jovens desaparecidos e, através do terceiro molar, por exemplo, pelo estágio e evolução, é possível saber a idade da pessoa”, reforça o pesquisador.

Resultado Para avaliar qual dessas três tabelas de espessura (conforme citado acima) ficou mais parecida com a pesquisadora, foi feito um teste na Faculdade de Odontologia de Araraquara, no qual 30 voluntários avaliaram o grau de semelhança obtido nas três reconstruções digitais, e 26,67% reconheceram o rosto de Serra em meio a fotos de outras mulheres entre 30 e 50 anos. Outros dois rostos, porém, foram bastante apontados pelos voluntários como sendo da pesquisadora. Mesmo assim, o resultado foi considerado positivo pela dupla.

Se isso ocorresse numa situação real, o passo seguinte seria solicitar às famílias a obtenção de dados dentários e de material genético para proceder na identificação do indivíduo. O trabalho dos pesquisadores faz parte de uma linha desenvolvida por ambos na área de Novas Tecnologias aplicadas às Ciências Forenses e os resultados poderão, em breve, ser utilizados.

“Queremos tornar a reconstrução facial forense acessível para a Odontologia, se possível desde a graduação”, afirma Clemente.

Mônica Serra explica que o trabalho também vai ajudar a encontrar muitas pessoas desaparecidas.

“Imagine uma pessoa que desapareceu no Amazonas e os familiares não tem notícias dela.  Seu corpo foi encontrado no Rio de Janeiro, e não se suspeita de quem seja. Se cada IML do Brasil tiver um software e pessoal treinado com capacidade de fazer a reconstrução facial e a imagem for veiculada na mídia, será possível que alguém daquela localidade reconheça a pessoa, por exemplo. Depois disso, podemos comparar dados odontológicos do desaparecido com os dados encontrados no cadáver e, então, conseguiremos resolver um caso de identificação e uma questão social”, salienta Mônica Serra.

Na Imagem do crânio com os marcadores de espessura de tecidos moles posicionados (lado esquerdo) e reconstrução facial forense digital realizada (lado direito) Protótipo em gesso (confeccionado em impressora 3D) da reconstrução facial forense digital Reconstrução facial forense digital semi-caracterizada (sem cabelo) Reconstrução facial forense digital caracterizada (com cabelo) Imagens gentilmente cedidas por Mônica Serra Jornal_APCD_Fevereiro_658.indd 10 03

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